ARTIGOS
Segunda-Feira, 01 de Março de 2010, 20h:40 | Atualizado: 26/12/2010, 12h:25
Serão deuses desembargadores?
Jorge Maciel
Como pai de três pós-adolescentes que ingressaram na universidade, e, claro, como um criador – como tantos milhões deles por aí – preocupado com o destino dos meus, aproveitei este final de semana, quando a família se reuniu novamente, irmãos, filhos, sobrinhos e amigos – para, como jornalista (sou uma referência de consulta, pois mesmo nada sabendo, sou tido como um papai-sabe-tudo) recomendar, mesmo em tom de brincadeira, aos filhos e sobrinhos para que esqueçam suas vocações e sonhos de futuro. Aconselhei para que deixem, num átimo, seus cursos e esquecessem qualquer carreira xinfrim. Recomendei-lhes para que, nessa juventude fulgaz, ingressem no Direito, única porta que lhes pode permitir a ascensão ao Olimpo, ao cimo, à magistratura “incólume, indene” ou ilesa. Esse episódio, nada incomum, em que desembargadores são acusados de cometeram uma série de deslizes, faltas, transgressões graves e assim mesmo, no limite do deboche, permanecem impermeáveis às leis, nos leva a uma reflexão obrigatória: onde pararemos? Que será da abismada sociedade?
Os conceitos, cada vez mais invertidos, ou os princípios de justiça pingentes cairão ou continuaremos a seguir como reses desgarradas para a areia movediça do desdém, da desarrumação social? Em que acreditar, como frenar a impunidade? Como conviver com esse protecionismo elitizado, cínico, corrosivo e desmedido? Dos desembargadores, desde menino – e quero crer que seria conceito até hoje -- esperava retidão abundante, comprometimento com o melhor para todos, ações para o fortalecimento de cidadania. Afinal, pelos salários (ou subsídios) que recheiam suas contas bancárias, mês a mês, confeitados de aditivos e bonificações, sem somar auxílio moradia e outras vantagens, seria natural que nos dessem, em respeito ao que extraem dos cofres públicos, a necessária segurança e luz de farol em termos de justiça e respeito.
Em qualquer frente do serviço público, quem pratica qualquer ato passível de punição ou advertência, é afastado a “bem do serviço público” sem direitos quaisquer. Mas aos desembargadores envolvidos aplica-se a pena da exclusão do serviço público premiada.
Esse cenário hediondo nos dá a sólida certeza, tomando por base esses dez desembargadores e tantos mais, de que pode-se infringir, trair princípios, praticar faltas, porque estando no auge da magistratura serão inevitavelmente “condenados’ a aposentadorias compulsórias de 30,40 ou 50 mil reais/mês, e a abiscoitar, ainda, alguns cifrões por conta da ‘necessidade premente’ do auxílio moradia.
Há uma história em que, em um congresso internacional, na formação da mesa, o cerimonialista anunciava os ministros participantes, quando, ao anunciar o ministro da Marinha boliviano, um brasileiro, com sacarsmo, questionou a um boliviano ao lado: “ministro da Marinha? Na Bolívia não há mar !”. O boliviano, plácido e irônico, justificou: “e no Brasil, não há ministro da Justiça?”.
Pelos (maus) exemplos que a Justiça oferece à nação, não somente neste caso, mas em inúmeros registros anos afora, fico resignado, e algo me faz lembrar daquele pensamento, segundo o qual se diz que os juízes acham que são Deus e os desembargadores têm a certeza de que são.
Eu também acho.
Jorge Maciel é jornalista em Cuiabá
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Comentários (15)
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André | Quarta-Feira, 03 de Março de 2010, 19h3200
Quais os valores que devo ensinar aos meus filhos e netos? Como vou explicar a eles que quem deveria julgar e punir os corruptos, bandidos, ladrões, assasinos, etc. usam da mesma artimanha para se dar bem? Como eu esclareço aos meus filhos e netos que a sujeira que despreende dos prédios faraônicos é apenas uma mancha que com água e sabão resolve, aliás não posso deixar de dizer aos meus filhos e netos que não se lava a honra, dignidade e ética com água e sabão apenas. É só!!!
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Virgílio Sudré Oliveira | Quarta-Feira, 03 de Março de 2010, 16h3900
A Justiça tem que ser igual para todos... Infeizmente, historicamente, na prática, isso não tem funcionado. Espera-se que, agora, isso seja um começo...
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Jota Passarinho | Quarta-Feira, 03 de Março de 2010, 16h3200
Realmente, Jorge Maciel, causa irritação à sociedade atitude dessa cambada, e igualmente nos aborrece a punição dada a ela. Mas o que vamos fazer??? A nós, simples mortais, resta apenas a indignação. Para que o resultado do CNJ fosse diferente, seria necessário que houvesse mudança na legislação, mas, a quem cabe essa tarefa, o Congresso Nacional...bem, esse nós conhecemos muito bem e, sabemo que não vai mover uma palha nesse sentido, até porque também é podre. Abraço.
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Ronaldo Pacheco | Terça-Feira, 02 de Março de 2010, 13h5500
Caro Jorge Maciel; Sem dúvida, seu artigo é pertinente... De qualquer forma, chegou a hora de provar que todos são realmente iguais perante a lei... Forte abraço...!
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raquel | Terça-Feira, 02 de Março de 2010, 12h1700
Para resumir então, Romilsom. O artigo é puro e verdadeiro !! Só isso basta
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luiz carlos | Terça-Feira, 02 de Março de 2010, 12h1500
Irmão, é preciso coragem para falar sobre esses afortunados, arrogantes e metidos a deuses
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nilson ribeiro | Terça-Feira, 02 de Março de 2010, 11h1400
Já vi muitos artigos, mas esse bate no ponto em que todo a sociedade matogrossense queria que alguém focase. Parabéns pao jornalista pelo artigo. É isso tudo, sem tirar nem por. Os juizes e desembargadores não são nada além de mortais, mas se acham mesmo maiores até que Deus!
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mané | Terça-Feira, 02 de Março de 2010, 10h5000
Já tá na hora de estabelecer arâmetros como a eleição direta, democr´tia, ara elo menos diminuir o peculato, desvios, imoralçidade do noso jUDICIÁRIO.
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raquel | Terça-Feira, 02 de Março de 2010, 10h4700
raquel, Há expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas. Queira, por gentileza, refazer o seu comentário
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Lena Liz | Terça-Feira, 02 de Março de 2010, 10h4200
Parabéns Jorge Maciel pela reportagem, você conseguiu expressão a indignação de todo povo matogrossense. Este Bando de deuses não mereciam prêmio algum, teriam que sofrer na pele as conseguências de suas ações, não é assim que ele julgam?
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