Divergências
Wilson culpa juiz por obras empacadas
27/12/2009, 17h:48 - Atualizado: 26/12/2010, 12h:15
Prefeito cuiabano Wilson Santos transfere responsabilidade sobre projetos paralisados a seu provável adversário nas urnas de 2010
Wilson Santos, pré-candidato tucano à sucessão estadual, começa a incluir no seu discurso político o nome do polêmico juiz federal Julier Sebastião da Silva, que alimenta expectativa de concorrer também à cadeira de governador. O prefeito de Cuiabá que curte férias com a família no Nordeste joga culpa no magistrado toda vez que é questionado sobre as obras empacadas do PAC. Moradores de alguns bairros vivem o caos por causa de buracos abertos à espera da rede de distribuição de água. A partir de investigação da Polícia Federal que apontou fraudes nos processos licitatórios, Julier determinou interrupção das obras, bloqueio de recursos e de bens de acusados e de empresas, além de prisões.
Depois, em meio a brigas jurídicas, tudo foi arquivado. As frentes de trabalho precisam recomeçar. A Operação Pacenas, deflagrada em 10 de agosto, trouxe desgaste ao prefeito, que teve aliados próximos presos, como o ex-procurador-geral do Município José Antonio Rosa e o empresário e ex-deputado Carlos Avalone. Agora, sob orientação do seu marqueteiro Antero Paes de Barros, Wilson tenta "carimbar" o juiz federal como culpado pela "lambança" e "ingerência".
O tucanato já fez manobras parecidas para desqualificar Julier na CPI dos Bingos, em Brasília, quando o magistrado e o MPF apontaram suposto envolvimento de Antero e de outras lideranças do partido com a factoring do ex-policial civil João Arcanjo Ribeiro, acusado de comendar o crime organizado. O calcanhar de Aquiles de Julier é sua antiga militância no PT nos tempos de faculdade. Apesar de não estar mais filiado há 14 anos, desde quando ingressou na magistratura, ele é visto como suspeito pelo tucanato.
Em pré-campanha pelos municípios, Wilson tem dito que o juiz foi tão afoito para colocar pessoas ligadas ao PSDB atrás das grades que não respeitou nem mesmo os trâmites legais do processo, tanto que foi afastado do caso por determinação do TRF da 1ª Região. Posteriormente, as provas provenientes das escutas telefônicas, gravadas com autorização do magistrado, foram excluídas do processo. Diante disso, o pré-candidato do PSDB ao Paiaguás avalia que já tem argumentos de sobra para culpar Julier. Dirá que o magistrado forjou uma história criminosa a partir das conversas gravadas e inventou os personagens a ponto de confundí-los. Prova disso, dirá o tucano, é que Julier, na ânsia de condenar tudo e todos, confundiu a ex-presidente da Comissão de Licitação de Cuiabá, Ana Virgínia de Carvalho, a Naná, com a empresária Ana Virgínia Ferraz. Filha do ex-deputado estadual Alves de Matos, Ferraz morreu cinco dias após a deflagração da Pacenas e teria R$ 50 mil para receber da prefeitura a título de indenização por um terreno desapropriado. O montante, porém, teria sido atribuído pela PF como pagamento à Naná “sem motivo esclarecido”.
Wilson sustenta o argumento de que Julier tem interesses políticos em suas decisões, tanto que é pré-candidato a governador. O magistrado, por sua vez, parece não está nem aí. Quando está distante das megaoperações, evita a imprensa e costuma alegar que os fatos falam por si. O magistrado tem defensores intransigentes que destacam a coragem dele no combate ao crime e à corrupção.