Eduardo Mahon
Telma, que saudades de você
27/02/2021, 00h:00 - Atualizado: 25/02/2021, 14h:53
Dayanne Dallicani

Por que Karol Conká saiu? Por racismo? Na edição anterior, ganhou Telma que era negra. Qual a diferença? A primeira é uma negra rebelde e outra, uma negra mansa. É isso? Não me parece. Nem de longe. Durante o programa (que está ótimo), Camila (que é negra) disse à eliminada: sua militância não tem lugar nessa discussão. Sim, a polêmica tratava-se de afinidade ou de qualquer outro tema não ligado à discussão racial. Sim, é possível manter uma discussão sem que a militância seja invocada. Camila resumiu tudo.
Aliás, Conká se equivocou justamente por isso. De um lado, infernizou um participante que (vejam vocês!) queria a disputa racial na casa, isto é, negros que votassem em brancos. Humilhou barbaramente o participante, esculhambou tanto e, de forma tão sistemática, que o garoto não teve estrutura para aguentar essa perseguição. Ele também errou? Sim, mas não a ponto de ser humilhado por quem, depois, vem pedir salvaguarda justamente na militância que condenou.
“A militância não pode fazer o que os brancos sempre fizeram: absolver seus pares de tudo apenas porque são militantes também”
Eduardo MahonNão, o Brasil (formado por 60% de negros autodeclarados) não reprovou uma negra com 99% por ser negra. Eliminou a participante por ser escrota. Sim, porque é possível um negro, um trans, um judeu, ser escroto. A militância não pode fazer o que os brancos sempre fizeram: absolver seus pares de tudo apenas porque são militantes também. Isso só iguala quem se diz tão diferente.
A arbitrária invocação de desigualdades brasileiras (que são um fato incontestável) não tem o condão de absolver previamente ninguém. Sim, os brancos fizeram isso durante milênios. Não, o caminho não é fazer igual. O caminho é lutar contra essa realidade e fazer diferente.
E Camila? É servil? Apenas porque não compra a militância de uma negra que humilhou um negro?! Ora! Que pensamento é esse? Camila é uma garota excelente. Assim como Joao, um professor da rede pública de ensino. Nenhum deles é branco, mas a minha torcida é deles, pessoas comuns que mostram caráter e equilíbrio para aguentar aquela panela de pressão.
Votei na Telma. Votaria novamente. Que exemplo ela nos dá! Mulher negra, estudiosa, firme, calma, perseverante. Milhares e milhares de garotas dizem a si mesmas - “é possível chegar lá”. Lá aonde? No BBB? Não. Em uma universidade para conquistar uma boa profissão. Que saudade de você, Telma!
Eduardo Mahon é advogado e escritor