ENTREVISTA ESPECIAL
Quinta-Feira, 16 de Fevereiro de 2017, 11h:49 | Atualizado: 22/02/2017, 13h:35
"Prostituição deveria ter um sentido melhor e estar nas políticas públicas"
Xica da Silva, do Livremente, diz lamentar o conceito negativo e a discriminação sobre o Zero KM
Rodivaldo Ribeiro

Xica da Silva enfatiza a importância do uso do nome social, reforçando a dignidade e direito à escolha
Vice-presidente da organização não governamental Grupo Livremente, fundada em março de 1995, cujo principal objetivo é dar apoio, visibilidade e defesa às políticas públicas para travestis e transgêneros, Xica da Silva, de 25 anos, começou sua militância cedo, aos 19.
Ela considera haver sim a necessidade da criação e fortalecimento de ONGs específicas de transgêneros e travestis porque os dois grupos acabam por precisar de maior cuidado quanto às vivências próprias delas.
Ainda que também sofram preconceito, gays, lésbicas e bissexuais conseguem empregos regulares, enquanto muitas travestis e transgêneros, não. Para ela, ambas têm o direito de escolher se querem ou não viver da prostituição e não serem obrigadas, na maioria das vezes, a só viver dessa atividade, por não conseguirem encontrar quem as empregue em outras áreas por causa do preconceito com a aparência e o modo de ser delas.
Sem rodeios, Xica da Silva concedeu uma entrevista ao para falar sobre os temas. Confira abaixo os principais trechos.
Por que há toda essa carga de preconceito em relação ao 0 KM (ponto tradicional de prostituição masculina e feminina, em Várzea Grande)?
Eu vejo isso como algo de muito baixo nível para nós, travestis, e também às outras pessoas que trabalham lá. É muito chato. Eu não trabalho lá, mas tenho várias amigas que trabalham. Fica muito difícil porque, além do preconceito, há vários usuários de drogas. E alguns são violentos. Já perdi várias e várias amigas dentro do zero quilômetro, por causa da decadência em que se encontra lá hoje.
Como somos discriminadas até mesmo na escola, a rua acaba virando nossa casa, nosso paraíso
Você acredita que a prostituição deveria ser legalizada?
Não legalizada, mas deveria ter um sentido melhor (em se tratando de políticas públicas). Porque também não acho que seja vida para ninguém, mas acaba sendo o melhor caminho, porque somos discriminadas dentro de casa, em todo lugar. Assim, o que se acha é uma casa de cafetina pra viver. Como somos discriminadas até mesmo na escola, a rua acaba virando nossa casa, nosso paraíso.
Você trabalha com o que, além da militância na ONG?
Eu milito no movimento, mas também faço programas, sou dona do meu nariz. A prostituição e a rua são lugares de risco, não de conforto, mas acabamos procurando a rua porque lá nos sentimos muito mais à vontade.
Quanto consegue faturar mensalmente com a prostituição?
Cerca de R$ 2,5 mil.
A maioria dos seus clientes é supostamente heterossexual?
Sim. E eles não procuram só sexo, procuram algo melhor, pra os satisfazer.
Travestis devem ser chamadas de ele ou de ela?
Com certeza absoluta, de ela.
Travestis e transgêneros conseguem os empregos ditos normais ou as pessoas ainda se recusam a contratá-las?
Depende de qual é a empresa, mas a gente não vê diferença entre ser travesti ou transexual. E nem toda travesti procura ou quer só a rua, muitas procuram serviços ditos normais, por isso a luta pelo nome social. Isso facilitaria muito, além de nos dar a dignidade de usar nossos nomes, escolhidos por nós.
Há políticas públicas específicas para vocês? Elas são satisfatórias?
Não. Elas são mais satisfatórias para os gays e lésbicas que as mantêm. Vejamos dentro de Mato Grosso: é muito difícil achar uma ONG ou grupo de apoio para as travestis e transexuais. É fácil perceber que é mais fácil ter ONG onde tem gays, lésbicas, bissexuais, mas não tem uma ONG específica para transgêneros e travestis. O que falo é de visibilidade, pois trans e travestis têm tanto direito de conseguir um trabalho, por exemplo, quanto qualquer um outro grupo ou ser humano.
Você conhece a Astramat (Associação das Travestis de Mato Grosso)?
Não, não conheço.
O que você acha das ideias do deputado federal Vitorio Galli (PSC)?
Me desculpe, mas não tenho nada para falar sobre essa pessoa. Sobre ela, meu silêncio já basta.

Xica da Silva, em várias poses, diz que políticas públicas são mais satisfatórias para gays e lésbicas e cita não existir em MT Ong que defenda travestis e transexuais
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