EXPEDIÇÃO 300
Sexta-Feira, 14 de Junho de 2019, 08h:05 | Atualizado: 28/06/2019, 11h:08
Sucuri: seo Pedro conta os segredos da pacupeva e celebra santuário - veja fotos
Mirella Duarte
José Medeiros

Nascido e criado no Distrito do Sucuri, Pedro Miranda Neto exibe orgulhoso 5 pacupevas
Nascido e criado no distrito do Sucuri, em Cuiabá, Pedro Miranda Neto, popularmente conhecido como seo Pedro, guarda em sua memória 55 anos de histórias e vivências à beira do rio Cuiabá.
Sua casa é um dos pontos de parada do fotógrafo José Medeiros, que realiza o projeto "Expedição 300 - O rio das lontras brilhantes: da nascente à foz".
Entre as suas ancoragens pelo rio, Medeiros proseia com Pedro, pescador antigo da região. A conversa se dá enquanto ele fatia uma série de peixes da espécie pacupeva. Com o linguajar arrastado e uma faca afiada, ele prepara o peixe com maestria.
Casado com Luiza Francisca Nunes Arruda, 59 anos, também conhecida pelos seus preparados de peixe aos finais de semana, Pedro formou uma família grande.
Enquanto prepara a comida, o ribeirinho descreve as variedades de preparações do pescado. “É bom para fazer ensopado, assado e com mandioca”, descreve o pescador. Esse peixe que ele descama é considerado uma pesca nobre da água doce, que surge no rio em um período muito específico do ano. Por este mesmo motivo foi que José Medeiros resolveu abordar a família que se sustenta dessa rotina e agrada os sete filhos, 20 netos e oito bisnetos aos finais de semana.
Uma família grande e apreciadora de peixes
Apesar dos “herdeiros” serem muitos, apenas o casal ainda reside na casa que, como os casebres tradicionais cuiabanos, é feita de adobe e taipa de pilão. Nas paredes da casa do carismático casal é possível perceber o “remendo” da estrutura antiga com a de tijolos mais recentes, fato que faz dona Luiza lembrar a possível origem da comunidade Sucuri.
Segundo ela, o nome foi dado por conta da cobra, bastante comum na região. Lembra que lá existia uma olaria e que os funcionários faziam vários buracos. “Eles, às vezes, se enchiam de água e com isso as sucuris entravam. Aqui sempre teve muita sucuri e elas comiam capivaras e os cachorros dos vizinhos”, afirma à ribeirinha.
José Medeiros

Dayanne Dallicani

Luiza Francisca Nunes Arruda e Pedro Miranda Neto são casados e vivem na comunidade Sucuri. Em foto, posam na casa simples que constituíram família
Nascido e criado na comunidade, enquanto retalha o peixe, o personagem conta que pesca desde a adolescência e que a vida é um pouco “cansativa”, mesmo que nem só de remos suba e desça as águas do rio. A rabeta, que é um pequeno motor comum destes pescadores, ajuda no dia a dia. No entanto, é uma rotina puxada e que exige dedicação. Afinal, a diversidade de peixes pela região é menor do que a de décadas atrás. Ao todo, dezesseis irmãos que o pescador teve, entre homens e mulheres, constituíram família e trilharam uma história similar na comunidade.
José Medeiros

Em meio à entrevista, Pedro exibe a quantidade de água que deve ensopar o peixe em uma panela de alumínio. Com jeito meio tímido, justifica a panela “velha” e bastante amassada, mas, mesmo assim, passa uma de suas receitas. “Tempera, frita o alho, corta e põe pra refogar”, comenta ao mostrar satisfação, como quem se faz satisfeito pela refeição de cada dia. A carne do pescado é sensível e, segundo dona Luiza, não precisa de corante. “Nos finais de semanas, meus filhos trazem carnes vermelhas de boi e frango, mas me dizem que querem comer peixe. O peixe fica bom acompanhado de arroz sem sal e pirão”, afirma.
Santuário
O rio nasce a partir de 27 nascentes (Cuiabazinho), que segundo seo Pedro, é como um santuário. “Lá a poluição ainda não chegou e o rio ainda é cristalino”, descreve. Segundo Pedro, o pacupeva não é um peixe fácil de ser encontrado pois, uma vez que ele sobe o rio, não desce mais. A preocupação de todos é com a preservação do rio Cuiabá, que em todos seus pontos e afluentes guarda memórias, histórias de família e espécies de peixes. A vida dos que vivem da pesca, mais do que uma questão financeira, é conectada às águas.
Dayanne Dallicani

José Medeiros foi 8 vezes até a casa de Pedro Miranda para fazer a imersão na vida da família e contar detalhes sobre como eles vivem à beira do rio Cuiabá
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