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Sexta-Feira, 10 de Agosto de 2007, 08h:57 | Atualizado: 26/12/2010, 12h:16
Brasil: país dos desperdícios
Apesar da propaganda governamental que manipula de forma deliberada a opinião pública, distorce a realidade, alimenta a alienação do povo e promove a desinformação da opinião pública, ainda existem alguns pequenos espaços para estimular a reflexão crítica por parte de uma parcela da população na esperança de que podemos pensar em mudanças e transformações políticas, econômicas, sociais e culturais em nosso país.
Mesmo que essas mudanças sejam de longo prazo não podemos perder de vista o processo histórico e a importância da educação, aqui entendida como prática da liberdade, conforme Paulo Freire tanto insistiu ao longo de sua vida e, neste contexto, uma dimensão crítica e criadora, capaz de romper as estruturas arcaicas e dominadoras que as elites utilizam para continuar explorando o povo em sua situação de miséria e alienação.
Qualquer que seja a dimensão em que a educação venha a ocorrer, a mesma não pode perder de vista que o Brasil é uma sociedade de classes, marcado por injustiças profundas, por contradições gritantes, por um sistema econômico, cujo modelo de desenvolvimento gera degradação ambiental, acumulação de renda e riqueza nas mãos de uma minoria ínfima e, em consequência, um sistema político e administrativo marcado pela corrupção e uma gestão arcaica e pouco eficaz.
Portanto, quando falamos, por exemplo, em educação no trânsito, educação ambiental, educação sexual ou até mesmo educação religiosa, não podemos imaginar que o educando, seja ele criança, adolescente, adulto, idoso, empresário ou pedestre, o mesmo não está desligado de um contexto social. Cada educando pertence a uma classe social e enquanto tal faz parte de estruturas injustas em meio a conflitos de interesses.
No caso da educação ambiental, tema que ultimamente tenho abordado de forma insistente, devemos ir um pouco mais a fundo. A forma como a mesma tem sido tratada às vezes muito se aproxima do chamado "otimismo pedagógico" e seus resultados, principalmente, de médio e longo prazo tem sido inócuos. Basta olharmos os parâmetros de referência como a mudança de hábitos de consumo da população, os padrões tecnológicos utilizados no processo produtivo e as relações de consumo existentes em nossa sociedade premiam o lucro fácil e o desrespeito total pelo meio ambiente em geral e os diversos ecossistemas em particular. Enfim, o que poderíamos denominar de "coisificação" dos seres humanos.
Seria importante e interessante que o leitor e eleitor pudesse refletir sobre como o desperdício em todos os setores da sociedade e da economia brasileiras contribuem para a degradação ambiental, a destruição da natureza e, ao mesmo tempo, gera miséria e injustiça social.
Nos próximos artigos tentarei abordar o desperdício em alguns setores que considero vitais para que o meio ambiente seja respeitado e a educação ambiental não seja um processo alienador, mas sim um diálogo crítico entre o ser e o ter, condição imprescindível para transformarmos a sociedade brasileira de forma profunda.
Esses desperdícios podem ser observados em quatro setores: da produção, circulação e consumo de alimentos; de energia; de água e da construção civil. Em todos esses setores o desperdício representa uma pressão muito grande sobre o meio ambiente em termos de uso do solo; das florestas; da água doce existente em nossos rios, lagos e subsolo, de conflitos de interesse e em fontes de corrupção.
Segundo dados da Abracen, 20% dos alimentos produzidos no Brasil são perdidos durante a colheita e mais 20% são perdidos no transporte, na industrialização e na distribuição. Enquanto isto, milhões de hectares de florestas, cerrados e outros ecossistemas são destruídos e dezenas de milhões de famílias continuam passando fome.
O mesmo ocorre com a água, enquanto milhões de famílias não dispõem deste precioso líquido, o desperdício neste setor chega a 40% no geral ou até 60% na agricultura. O desperdício de energia representa mais de 10 bilhões de reais a cada ano e na construção civil a 33%, segundo alguns estudos de organismos técnicos.
Juacy da Silva é professor universitário, mestre em sociologia e colaborador de A Gazeta (professorjuacy@yahoo.com.br)
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