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Sábado, 06 de Janeiro de 2007, 01h:15 | Atualizado: 26/12/2010, 12h:15
Chocadeiras da violência (2)
O jornalista Onofre Ribeiro faz algumas considerações diretamente ligadas à raiz da violência urbana. Confira no artigo publicado no Diário de Cuiabá neste sábado (6) e reproduzido abaixo.
Uma vez compreendidas as causas da origem social dos problemas geradores da violência urbana no Brasil, é preciso traçar o exato momento em que se romperam os vínculos entre dos valores coletivos. Para isso, vou relatar um fato que ouvi da boca de duas professoras cuiabanas, de uma escola no bairro Jardim Industriário, na região do Coxipó. Ele é especialmente didático porque pode ser aplicado a qualquer região do Brasil, principalmente nas médias e grandes cidades.
Na escola elas convivem com alunos que vêm das camadas mais pobres do bairro, que é periférico da capital. São crianças filhas de mães separadas e raramente o companheiro da mãe é o pai. Então, existe o descompromisso paternal, somando à violência contra a mãe e contra os filhos, o álcool como pano de fundo para piorar as relações. E o pior é a promiscuidade. Dormem quase todos espalhados pelo chão, facilitando ligações incestuosas.
Com essa cultura, as crianças chegam à escola onde deságuam todas as suas frustrações no grupo. Tornam-se agressivas na força do conjunto e exercem uma liberdade exagerada. As meninas adoram ser chamadas de “galinhas” porque lhes dá prestígio entre os meninos. A gravidez dá status, mas a responsabilidade com o filho é jogada nas costas da mãe, já sobrecarregada. Eles percebem que a vida útil da infância e da adolescência ali é muito curta.
Outra atitude dos alunos, é a violência entre eles próprios e as ameaças aos professores. Meninos armam-se da faca e estiletes, e ameaçam professores na maior tranqüilidade. Ser preso dá status aos garotos. Eles trazem da prisão o aprendizado que não tinham da violência e as experiências que ouviram e aplicam assim que voltam.
Aqui entram duas considerações diretamente ligadas à raiz da violência urbana:
1 - as creches públicas são poucas, mal aparelhadas e atendem a quase nada da demanda quando se compara que 58,8%(dados do IBGE-2006) dos lares cuiabanos são dirigidos por mulheres, cuja maioria é pobre e trabalha para sustentar a família. Creche deveria ser prioridade social à luz da segurança;
2 - o Brasil é o único país nas Américas, cuja escola fundamental e do ensino médio não funciona em horário integral. A escola ensinaria as letras e teria o tempo necessário para ensinar valores, cidadania, dar preparo para a vida. O aluno fica quatro horas na escola, e o resto do tempo na rua onde acaba se envolvendo com situações de risco.
Como se vê, somando-se a falta de oportunidades nos bairros, a violência nasce muito cedo. Ele recruta desde a tenra infância e constrói uma cultura de permissividade que deságua na delinqüência infanto-juvenil e adulta, cada vez mais violenta e sem princípios. Como exigir que esses jovens marginalizados, uma vez marginais, respeitem valores como a vida, a propriedade, o conceito de sociedade? Eles não têm a mínima obrigação de serem decentes aos olhos da sociedade que os transforma no que se tornam. A raiz da violência é social. Não é policial! O assunto continuará na terça-feira, dia 9.
* ONOFRE RIBEIRO é articulista deste jornal e da revista RDM (onofreribeiro@terra.com.br)
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