O histórico de investigação da Câmara Municipal de Cuiabá, criada em 1727 quando a hoje capital mato-grossense se chamava Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, revela que nenhum vereador acusado de quebra de decoro parlamentar fora punido com cassação de mandato. Em meio a muita confusão, o assunto entrou na pauta neste começo do ano por causa do escândalo sexual envolvendo o parlamentar Ralf Leite (PRTB).

   Na versão de PMs, que abordaram-no na região do posto Zero, em Várzea Grande, na madrugada do último dia 6, Ralf estaria embriagado e no volante de uma camionete e, para piorar a reputação do parlamentar, praticava atos libidinosos com um travesti menor de 17 anos. Os policiais acusam também o  vereador de agir com desacato à autoridade. No Boletim de Oocorrências não constam, porém, todas as acusações.

   A Câmara Municipal acionou sua Comissão de Ética, que abriu processo de investigação contra Ralf. Este, por sua vez, pediu licença do cargo por 90 dias. A Mesa Diretora resiste em aceitar o pedido.

  Em 1989, numa sessão tensa, o então líder do prefeito Frederico Campos, vereador Valdemir Olavarria de Pinho (PFL, que se transformou em DEM), se envolveu numa briga, em plenário, com o também parlamentar Roberto Nunes (PMDB), que era o primeiro-secretário da Mesa Diretora. O presidente da Câmara era Saluniel Pinheiro (PTB). Houve troca de socos e pontapés. A confusão se deu porque Nunes queria um reajuste maior para o funcionalismo, enquanto Olavarria defendia um aumento menor. Ambos foram investigados pela Comissão de Ética. Ao final, apenas uma punição branda: repreensão por escrito.

  No final de 1993, o então vereador e hoje deputado federal Eliene Lima, à época no PDT, denunciou da tribuna que o prefeito Dante de Oliveira estava loteando obras, sem licitação, para empresas para atender vereadores. A acusação caiu como uma bomba. Eliene sustentou que cada vereador tinha espécie de "cota de obras". Por causa disso, foi acionado na Comissão de Ética, presidida por Marcelo Ribeiro, hoje prefeito de Barão de Melgaço e marido da deputada estadual Chica Nunes (PSDB). A Mesa era presidida por Roberto Nunes. De novo, só houve, ao final das investigações, repreensão por escrito.

   Agora, 16 anos depois, a Comissão de Ética entra em ação de novo. As opiniões se dividem. Uns apostam que tudo vai acabar em pizza, com absolvição de Ralf Leite. Outros acreditam que o legislativo cuiabano vivem um novo momento e, sob pressão da imprensa, o vereador poderá até ter o mandato cassado.

Marcelo Ribeiro, hoje prefeito de Barão de Melgaço, foi quem investigou Eliene em 93 e só resultou em repreensão por escrito