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Segunda-Feira, 18 de Dezembro de 2006, 06h:18 | Atualizado: 26/12/2010, 12h:15
Democracia é isso?
O jornalista Carlos Chagas, numa linha crítica em A Gazeta desta segunda-feira (18) - www.gazetadigital.com.br -, faz espécie de um balanço dos escândalos políticos registrados neste ano. Lembra do mensalão, dos sanguessugas, do dossiê Vedoin, inclui no pacote a aprovação do aumento de 91% aos congressistas e das promessas não cumpridas do governo federal.
Leia a seguir a reprodução na íntegra.
Não poderia ser pior esse apagar das luzes do ano, com ênfase para o final da da legislatura. Em matéria de Congresso, houve de tudo para renegar o regime democrático. Mensalões aos montes, ou seja, compra de parlamentares com dinheiro vivo, para que mudassem de partido, apoiassem o governo e vendessem seus votos. Apurado o escândalo envolvendo mais de sessenta deputados e dois senadores, só três perderam o mandato: Roberto Jefferson, que denunciou a lambança, mesmo tendo se valido dela; José Dirceu, que da Casa Civil chefiava a quadrilha; e Pedro Correia, do PP, escolhido a esmo como exemplo. Dirigentes do PT tiveram que deixar seus cargos, mas continuam muito bem, obrigado, alguns até reeleitos para o Congresso.
Depois veio o escândalo dos sanguessugas, com montes de deputados e três senadores envolvidos na apresentação de emendas para o superfaturamento de ambulâncias distribuídas aos municípios. Nova apuração, mas nenhuma cassação. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos.
Em seguida a trapalhada do dossiê elaborado pela campanha de Aloízio Mercadante para prejudicar a candidatura de José Serra, em São Paulo. Um milhão e setecentos mil reais, mais algumas centenas de dólares, apreendidos fotografados em poder de grandes e pequenos funcionários da direção do PT, com prisões eventuais de alguns, mas, no fim de tudo, sem que o Congresso, a Polícia Federal, o Ministério Público e o Poder Judiciário descobrissem a origem do dinheiro. Um relatório incompleto e pífio da CPI respectiva.
Para completar o período legislativo, surge agora o escandaloso aumento de 91% concedido por suas excelências para eles mesmo. Nem é preciso repetir números, capazes de indignar o mais leniente dos cidadãos.
Democracia tivemos, porém, do outro lado da Praça dos Três Poderes? Nem pensar. No Executivo, a frustração pelo descumprimento das principais promessas de campanha feitas pelo presidente Lula em 2002. Foi adiado o espetáculo de crescimento, mantiveram-se e até se ampliaram as benesses e os privilégios das elites, com os bancos lucrando mais do que em toda a história da República. Especuladores isentos de impostos e a atividade especulativa superando de muito a atividade produtiva. Impostos em ascensão, é claro, sem esquecer a trapalhada feita pelo outrora mago das finanças nacionais, Antônio Palocci, flagrado em prática criminosa de abrir o sigilo bancário de um simples caseiro. Por sinal reeleito deputado federal pelo PT de São Paulo. Lembrando, também, o vídeo anterior, onde o subchefe do Gabinete Civil para Assuntos Parlamentares, Waldomiro Diniz, recebia propina de um bicheiro.
No meio de tudo, o presidente Lula repetindo que não sabia de nada, botando culpa na imprensa, especializada em divulgar notícias ruins em vez das boas. Entre essas, como carro-chefe, o Bolsa Família, programa necessário, mas assistencialista e estimulador da ociosidade. Quanto aos dez milhões de novos empregos, balela pura. Mesmo aqueles apregoados pelo governo não evitaram, de um lado, as demissões correspondentes, e, de outro, as cifras cruéis da existência de 50 milhões de brasileiros sem emprego, vivendo abaixo da linha da pobreza.
Enquanto isso o governo, capitaneado pelo seu partido, confundiu-se com o próprio Estado, ocupando espaços em todos os setores da administração federal, sem o devido preparo nem as cautelas exigidas para o trato da causa pública.
Falta o Judiciário? Claro que não. O nepotismo nos tribunais viu-se abafado, mas continua vivo, enquanto muitos ministro do Supremo Tribunal Federal encontraram meios de elevar vencimentos de 24 para 28 mil reais, por conta de jetons auferidos em ocupações eventuais. Sem referir o principal, a morosidade na decisão de processos que se arrastam anos a fio, subordinados a recursos e filigranas legais de toda ordem. Só no final do ano acabou aprovada no Congresso a súmula vinculante, cujos efeitos veremos apenas no próximo ano.
Em suma, não é essa a democracia de que necessitamos nem a que queremos. Reeleito, o presidente da República acaba de ser diplomado e promete que daqui para a frente tudo será diferente. Não dá mais para falar em herança maldita e continuar comparando o seu governo com o anterior, importando menos saber qual o pior. A partir de janeiro haverá que cotejar o Lula com o Lula.
O crescimento econômico decepcionante, a crise na agricultura, o desânimo da maioria do empresariado, a frustração da classe média, a miséria das massas e o descalabro parlamentar não parecem um bom começo, em especial em meio a crises pontuais que transformam os aeroportos em galinheiros, as rodovias em queijos suíços e as cidades em imensas piscinas de água suja. Se democracia é isso...
Carlos Chagas é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às segundas-feiras
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