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Quinta-Feira, 19 de Julho de 2007, 09h:21 | Atualizado: 26/12/2010, 12h:16
Em estado de choque
Dez meses depois, o país volta a entrar em estado de choque. Mal deu para esquecer o pesadelo do vôo 1907, a colisão no ar entre um avião da Gol e um jato Legacy. Aqui estamos nós de novo, lamentando, chorando, completamente atônitos diante de nova catástrofe. Um pesadelo. Algo que não dá para acreditar. Cada vez que uma tragédia dessas acontece, torna-se a maior. Cada vez, a maior. Não sei aonde vamos parar, que tragédias maiores iremos assistir.
É, na verdade, uma perplexidade misturada com indignação. É inacreditável que não se encontre uma solução para os problemas aéreos brasileiros. Todos sabem do diagnóstico: uma condição melhor para controladores e equipamentos; um cuidado maior com as pistas (e não apenas com a suntuosidade dos aeroportos); mais infra-estrutura aeroportuária. Isso é o mínimo. O que não dá, a cada ano, é o país ficar contando seus mortos, chorando vidas perdidas em acidentes aéreos.
Logo virão vozes, se é que já não chegaram: é preciso acabar com Congonhas. Não é bem assim. Quando Congonhas nasceu, era um ponto perdido na periferia, onde o paulistano ia passear, um programa de fim-de-semana. Quase uma viagem. A cidade engoliu o aeroporto e os governantes pouco ou nada fizeram. Então, o que é preciso fazer? Dar condições modernas para que ele funcione, já que ele é tão fundamental para a vida de São Paulo. Dar pista, equipamentos e conforto para que continue sendo o mais movimentado do país.
E dar condições é agir com prioridade. Por que dotar o aeroporto de todo conforto para os passageiros antes de dar às pistas o melhor da segurança? É uma questão política. Aparece mais aos olhos da sociedade, das manchetes, do eleitor, construir ou reformar o terminal de passageiros do que atender às necessidades da pista. É isso que impulsiona muitas vezes o político a soltar seu discurso vazio em busca do aplauso barato.
Afinal, a pista de Congonhas tinha ou não condições de ser aberta ao uso? Ainda precisamos aprender muito o que é Democracia e combater a impunidade. Não se acha culpado para nada. E as safadezas vão acontecendo.
Da mesma forma que se fica em estado de choque quando assistimos a uma tragédia como esta de São Paulo, ficamos também perplexos diante da ousadia de certos políticos de enfrentarem a opinião pública com a maior desfaçatez. Não é possível mais um político acusado de tantos deslizes se jogar de peito aberto dentro do Congresso Nacional, para cumprir um mandato de senador. Com a folha corrida que tem, não se pode esperar grande coisa do tal senador do PTB do Distrito Federal.
Mas parece que, nesses casos, a indignação do brasileiro está meio amortecida. Serão necessárias novas catástrofes, novas cassações, novos processos, novos escândalos, cada vez mais terríveis, para que essa indignação aflore. Infelizmente. A esperança é a de que, algum dia, que está difícil chegar, a situação mude, e o Brasil consiga se livrar dessa praga chamada corrupção, que mina a Democracia do país, e dessa rotina de impunidade que nos acostumamos a apenas narrar.
Não sei francamente o que é mais difícil: melhorar nosso sistema aeroviário ou exterminar essa maldição, que é conviver com homens públicos de baixa qualidade moral, quase marginais, que se utilizam de cargos nos poderes da República para se locupletar, tirar proveito do cargo. Isso acontece porque ninguém é punido. Ou é muito fácil escamotear, encobrir sua culpa e se tornar mais um injustiçado. O que vem acontecendo na política também é motivo para deixar todos em estado de choque.
Carlos Monforte é jornalista em Brasília e escreve às quintas-feiras em A Gazeta
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