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Quinta-Feira, 24 de Maio de 2007, 09h:22 | Atualizado: 26/12/2010, 12h:15
O apagão da CPI
Esta semana certamente ainda será lembrada por muito tempo no Congresso Nacional. É a semana em que, como num passe de mágica, oposicionistas e governistas apareceram simbolicamente abraçados, unidos por algum laço invisível que as divergências do dia-a-dia e a obrigação do antagonismo de cartilha não conseguiram romper. Pelo menos nesta semana, oposição e governo parecem cultivar uma afinidade vinda da infância.
Evaporou-se como por milagre aquela indignação com que certos políticos costumavam aparecer à frente das câmeras de TV e dos microfones, sempre que era revelado mais um escândalo administrativo ou feita mais uma denúncia de corrupção. De repente, os mensalões e os dossiês começaram a parecer coisa de um passado remoto. Tudo isso deu lugar a uma surpreendente prudência e a doses maciças de bom senso da parte da oposição.
Por exemplo: foi difícil acreditar quando um líder oposicionista, conhecido pela virulência dos seus ataques ao trabalho da Polícia Federal e ao governo Lula, passou a elogiar, sem mais nem menos, a forma competente como aquela corporação conduziu as investigações que resultaram na chamada Operação Navalha e na conseqüente prisão de 47 pessoas, acusadas de organizar a quadrilha que fraudava licitações de programas governamentais.
É isso mesmo. A Polícia Federal brasileira, sistematicamente crucificada em tantas outras ocasiões, passou a merecer a inteira confiança de alguns parlamentares da oposição. Também da noite para o dia, deputados e senadores que nos últimos meses andaram se engalfinhando pela criação de mais uma CPI, apareceram como cândidos modelos de comedimento, não há motivo algum para se pensar em CPI; aliás, quem falou em CPI? Para que CPI?
Durante vários anos, em passado mais ou menos recente, a primeira pedra, perdão, o primeiro pedido de CPI, era sempre atirado pelos políticos do PT. O presidente espirrou duas vezes seguidas, deu motivo para CPI. O ministro fez implante capilar, CPI nele! Claro, havia também os motivos mais sérios para se pedir a instalação de CPI e os petistas não se faziam de rogados: pediam no ato. É verdade que quase nenhuma das comissões deu em nada, mas elas sempre se constituíram em ótimos palanques. Portanto, produziram resultados. Pelo menos eleitorais.
Mais recentemente, a mania ganhou força de novo, agora pelas mãos de deputados e senadores do PSDB e do PFL (no momento Democratas). Aliás, ganhou tanta força que por pouco uma delas não derrubou o presidente da República em 2005/2006. Passadas as eleições, reeleito o alvo preferido das CPIs recentes, eis que os aeroportos do país entram em colapso, os controladores de vôo fazem greve e os aviões de carreira teimam em permanecer mais tempo em terra do que no ar. Chama a CPI! Idas e vindas, marchas e contramarchas, o plenário da Comissão de Justiça da Câmara vira um quase campo de batalha, recorre-se ao Supremo e finalmente saem não uma, mas duas CPIs, ambas incumbidas de investigar o mesmo assunto, o chamado apagão aéreo.
Bem, esse era o cenário até a semana passada. De segunda-feira para cá, o que houve foi um apagão da CPI. O assunto é quase proibido e certamente constrangedor nas duas Casas do Congresso Nacional. De repente, quase todo mundo descobriu que tem coisas mais importantes a fazer do que apoiar pedido de CPI. Governo e oposição finalmente falam a mesma língua. Ou até preferem não falar. O próprio governo anda confuso: já não sabe exatamente com quantos aliados pode contar no Senado e na Câmara. Afinal, a partir de agora a chamada base aliada deve ou não incluir os parlamentares do PSDB e do Democratas?
Carlos Monforte é jornalista em Brasília e escreve em A Gazeta às quintas-feiras
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