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Sábado, 23 de Junho de 2007, 09h:20 | Atualizado: 26/12/2010, 12h:16
O país e os bois
Por que o Brasil parece, às vezes, tão grotesco? É uma pergunta até simples se você comparar com aquela que abre o romance de Vargas Llosa: quando é que o Peru se fodeu?
Embora não queira reduzir o quadro, a contradição entre instituições de controle e um sistema político apodrecido continua a ser a grande reveladora dos escândalos. No caso da Operação Navalha, os suspeitos foram fotografados e ouvidos amplamente. Renan Calheiros achou que poderia apresentar documentos para um Senado complacente.
Não contou com a equipe de TV que iria checar recibo por recibo, lá em Alagoas, onde sua história foi escrita. A mídia é uma instituição de controle.
Quando, no passado, briguei com o Wellington Salgado, ele disse que eu era um homem-bomba.
Hoje, quando Salgado e outros aparecem na televisão, considero-me gozando aposentadoria. Eles mesmos se explodem. A simples exposição de um debate no Conselho de Ética é suficiente.
Grandes contradições, quando se desdobram, não são retilíneas.
Há sempre recuos, indecisões, desespero. Ouso, no entanto, dizer que estamos no bom caminho.
Existem, no mínimo, dois problemas entrelaçados: o gigantismo e a ineficácia da máquina do Estado e a decadência dos políticos. Eles se alimentam e interagem de várias maneiras.
Para colocar a máquina do Estado a serviço do país, é preciso derrotar a visão dominante na política. Para reduzir a corrupção idem. A grande luta está em curso.
Muitos vêem os escândalos como fato isolado. Não se consegue estabelecer um vínculo entre eles. São gemidos de um mesmo prolongado parto.
Nem sempre se pode ter uma visão fria na frente de batalha. São grandes as dores de ver amigos se decompondo no medo e na cumplicidade. Creio que, nesse ponto, tanto Calheiros como nós vivemos uma experiência pedagógica sobre o ser humano. No princípio, foi uma manobra quase unanime para mantê-lo. Com o tempo, alguns subiram no muro.
Quando esses processos são postos em marcha, vive-se um intenso psicodrama. Há os que vão para o buraco e os que se revelam subitamente envelhecidos. Mas o país avança, ainda que de uma forma nebulosa.
A reforma do Estado e o combate às causas da corrupção dependem dos políticos que se beneficiam dela. É esse obstáculo que o Brasil está tentando saltar, com instituições de controle e opinião pública.
Se soubermos combinar tudo com um leve apoio internacional, serão mais amplos os horizontes do combate.
Fernando Gabeira escreve aos sábados nesta coluna.
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