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Quarta-Feira, 20 de Fevereiro de 2008, 10h:39 | Atualizado: 26/12/2010, 12h:19
Réquiem ao Pantaneiro
Agora, cavalgas por teu imenso pântano em teu cavalo alado de crinas de vento. Ao longe, o Aranquã anuncia tua chegada, ecoa por todo o pantanal um grito dorido: - Jonas vem cá, Jonas vem cá, Jonas vem cá... Como se a muito o esperassem para que ali habitasse sempre.
Teu jeito caboclo, traços fortes e voz firme fazem-te guardião de céus e águas do Xaraiés, reinarás absoluto entre Paiaguás e Guaicurus lendários. Espera-te teu bastão de jerivá e a legião de guerreiros que nunca morrem. A Sussuarana murcha as orelhas ao fitar tua zagaia imaginária. Um bando de Tucanos-de-bico-verde perfilam-se para te dar boas-vindas e o Tuiuiú posta-se sisudo como bem cabe ao que almeja o posto de conselheiro.
Centenas de Coleiras pulam e voam de um lado para outro anunciando a festa em tua homenagem. Paira, em um Sarã, a Garça com sua exuberante nobreza vestida de branco como se dissesse que a corte de plumas aguardava-te com as honrarias de rei. Distante, Marias-faceiras fazem a festa.
Cai a noite sem véus, a lua se faz maior e as águas da baía de Chacororé se desmancham em espelho. De cada capão-de-mato sai um Boi-baguá. Teus capitães de campo que se perfilam com tua chegada. São como tu, impávidos, monossilábicos e inflexíveis em suas razões. Sem nunca terem abdicado da altivez. Certos de suas verdades, jamais as negaram, fazendo-as perenes em si.
Tu bem sabes que sempre estivemos em trincheiras opostas, crendo que faríamos um mundo melhor e, ao nosso modo, fizemos. (foi mister que fizesse essa digressão para que pudesse honrar-te melhor).
Um campo de luzes brilha, nos olhos dos jacarés, para iluminar teu caminho de águas e estrelas; no horizonte, os Bugios gritam os primeiros raios de sol. Teus olhos refletem o amanhecer do “Mar Dulce” com o seu esplendor e calma, apenas para refletir um pouco de ti. Foste assim, de voz pausada, de poucas palavras como se habitasse em ti a alma de todos os pantaneiros.
Apenas os que conhecem todas as nuanças do pantanal é que podem saber-te: Guaraná-de-sete-águas, bugre antes de tudo: soubeste muito bem dignificar tua gente, elevaste, e muito, o nome de Mato Grosso, de nossa gente mestiça e destemida. Representaste como ninguém a raça do povo da região em que terra e água sempre serão um mistério.
Que importa os cargos que ocupaste, as honrarias que recebeste e o que acumulaste; se o que querias era apenas o mísero direito de olhar longamente para tua esposa e teus filhos. Contemplar com suavidade teu pântano, repleto de surubins, dourados e piraputangas faceiras que enfeitavam tuas águas serenas. Poucos podem sentir, agora, tua felicidade: a viração pantaneira acariciando teu rosto, o doce das águas molhando tua boca e o sol te convidando a remar.
Sei que segues remando, com tua legião, estabelecendo, entre meandros, a terceira margem do pantanal. E, como diz “seu” Basílio Conceição, o Bagi, do São Gonçalo-Beira-Rio, pra atravessar esse céu, só uma asa...
Sérgio Cintra é professor em Cuiabá e Várzea Grande (sergiocintra@terra.com.br)
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