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Sexta-Feira, 03 de Agosto de 2007, 09h:05 | Atualizado: 26/12/2010, 12h:16
Um quadro antidemocrático
Todos os brasileiros são defensores do processo democrático. Defendem-no veementemente. Alguns o fazem convictos que estão no caminho certo, rumo ao progresso e ao desenvolvimento. Contudo, tanto quanto aos demais conterrâneos, ainda continuam presos apenas aos discursos de intenção, longe, portanto, do campo prático. Ignoram, desse modo, que o viver em democracia não é tão fácil assim, pois esta requer, de cada pessoa, independentemente de sua posição social, dedicação, participação, solidariedade, tolerância e renúncia aos caprichos pessoais.
Virtudes essas necessárias e importantes, inclusive para a conquista da cidadania, e esta condição, por sua vez, é imprescindível para o avançar democrático, uma vez que o cidadão é conhecedor de todos os seus direitos e deveres, posicionando no tablado nacional como alguém participativo e crítico. Diferentemente da postura do simples consumidor, que prefere sempre o entretenimento e a satisfação individual, particular, e, talvez por conta disso, é menos tolerante e solidário. Explica-se, portanto, porque uma grande parte das pessoas opta por ouvir o som da própria voz e a supervalorizar suas próprias realizações, que quase nunca são importantes para a coletividade.
Nesse diapasão uníssono, certamente como resultante deste, a não aceitação das opiniões divergentes, preferindo assim tão-somente os aplausos, em hipótese alguma a vaia, a não ser que esta esteja direcionada a outrem. Aliás, os políticos se encaixam muitíssimo bem nesse perfil, enquanto a bajulação e o paparico, no entendimento desses senhores, lhes cairiam ao gosto, pois massageiam o próprio ego. Daí a importância da mídia, que só não é bem-vinda quando tece duras críticas a algumas das ações e atos de parlamentares e chefes do Executivo municipal, estadual e federal. Ressuscita-se, então, a história do golpismo. A propósito, é exatamente isso que se presencia agora em relação à vaia ao presidente Lula da Silva, cujos apoiadores, sobretudo aqueles que de alguma forma usufruem das benesses do poder de mando e/ou da administração pública federal, contra-argumentam com a utilização "tomada do Estado", "golpe das elites", "complô". E por aí deixam aflorar sua verborragia. Estranho disso tudo é a participação ativa de determinados agentes intelectuais, "compromissados com as questões sociais e com a coisa pública", tal como a professora Marilena Chauí que, no passado recente, era uma das maiores críticas do governo FHC, acusando-o de ter comprado congressistas para a aprovação do instituto da reeleição, bem como de ter vendido pessimamente as empresas estatais. Agora, no entanto, fala em invenção do "mensalão" e em "denuncismo" ao referir-se às acusações que envolvem os amigos e auxiliares diretos do presidente Lula da Silva. Até mesmo levanta a hipótese da inexistência do "apagão aéreo", ignorando as quase quatrocentas pessoas que morreram nas tragédias da TAM e da GOL.
Quadro estranhíssimo. Próprio de regime autoritário e do lema "para os amigos tudo e para os adversários os rigores da crítica, da lei". Dificultando, dessa forma, o avançar democrático. E isso é péssimo, pois inibe o contraditório e afugenta o diálogo. Além, é claro, de impedir que o simples trabalhador, aquele que se sente próximo do presidente em razão da história de vida em comum, saiba do que de fato vem acontecendo, e, por conta disso, o afasta, em demasia, do processo de conquista da cidadania. Enclausurando o país e o seu povo.
Lourembergue Alves é professor da Unic e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos (lou.alves@uol.com.br)
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