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Segunda-Feira, 19 de Março de 2007, 07h:50 | Atualizado: 26/12/2010, 12h:15
Violência e o Estado impotente
Nessa guerra civil não declarada, a violência no Rio - 70 pessoas já foram assassinadas lá este ano -, cria pavor pelos insultos dos bandidos, na base do matar ou morrer para manter o domínio do território. Aqui, o pânico ocorre de forma isolada, em cada família que perde parentes para o tráfico. Isso não é considerado nas estatísticas de nossas autoridades. Alguns comparam o nosso Estado com os grandes centros para sustentar a tese de que não vivemos numa região violenta. Estamos, sim, num dos Estados que mais matam por influência do tráfico. Lamentavelmente, não se vê ação concreta e efetiva do governo no combate ao tráfico de drogas na fronteira, na escola, na rua, etc.
A menos de 100 km da fronteira com a Bolívia, Cáceres se transformou, por exemplo, em ponto estratégico do narcotráfico. É o principal município de uma área total de 720 km de fronteira seca entre MT e o país vizinho, um dos maiores produtores de cocaína do mundo.
Os governos estadual e federal parecem fingir que a região Oeste, que no passado recente foi caminho do ouro que ia de Cuiabá para Vila Bela da Santíssima Trindade, hoje representa a passagem da cocaína e dos veículos roubados.
Há um outro problema no combate ao tráfico: o envolvimento de alguns policiais militares e civis com o narcotráfico e o roubo de carros e carretas na fronteira. Os veículos roubados no Brasil servem de moeda de troca para a compra de cocaína ou pasta de coca na Bolívia. O Ministério Público já tem indícios desses crimes cometidos na região. Essas áreas mal vigiadas se transformaram em territórios acima da lei.
Uma das razões da fragilidade está no número irrisório de agentes federais. Há mais de 8 mil, mas em MT e Mato Grosso do Sul não passam de 500. Nas zonas mais problemáticas, como a fronteira de Ponta Porã com Pedro Juan Caballero, são cerca de 30. Em Cáceres, na divisa com a Bolívia, menos de 20. Na Argentina são 37 mil homens, mais de quatro vezes para uma área 75% menor.
Muitas mortes estão relacionadas ao narcotráfico e ao não-pagamento de dívidas de negócios ilícitos, como contrabando.
Deter o tráfico de armas, expurgar e educar a polícia violenta e corrupta, investir em formação e meios técnicos para melhorar o trabalho investigativo, reter jovens na escola, promover campanhas contra o uso de drogas e construir novos presídios para isolar os chefes do tráfico. São em sua maioria idéias tão recorrentes quanto sensatas, às quais ninguém bem-intencionado poderia se opor.
Mas são propostas que, mesmo que seu financiamento fosse logo viabilizado, teriam efeito a médio e longo prazo. A sensação é que o longo prazo acabou. Resolver aqui qualquer problema social visto de forma isolada, da violência urbana aos conflitos no campo, é como soldar os vagões de um trem em movimento, levando célere para o abismo por todas as demais variáveis.
Infelizmente, o mercado, que seria a solução para tantas coisas, vira parte do problema, sendo que o Estado deveria ser parte da solução. Acontece que o mercado de armas legais ou ilegais é parte do problema ao colocar instrumentos de morte nas mãos de tantos. O Estado deveria controlar esse mercado. Ao invés disso, perdeu o controle. O mercado da droga é um estímulo à criminalidade. O Estado deveria combater esse negócio, mas é incapaz ou impotente. Então, todos os governos são co-responsáveis por tantas mortes.
O governo já tem a frágil resposta na ponta da língua quando questionados sobre combate à violência. Lamenta falta de recursos, estrutura, etc. O Estado atribui responsabilidade à União e vice-versa. Nossos governos gastam e são motivados a gastar cada vez mais para combater sintomas. Foram condenados a atuar como bombeiros para apagar incêndios em atividade frenética e variada porque eles e os que detêm poder na sociedade são incapazes de atacar as causas de sua desagregação, como a renda ultraconcentrada, a falta de emprego e de salário que cria o exército de reserva e o mercado de trabalho precário e perverso.
Pelo visto, o sintoma da violência continuará contaminando e matando. Nos últimos 24 anos, já se foram 2 milhões de pessoas vítimas de mortes violentas. É o retrato da guerra civil não declarada nas estatísticas do IBGE.
Romilson Dourado é jornalista, editor de Política de A Gazeta e escreve neste espaço às segundas-feiras
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