PANTANAL ESQUECIDO
Sexta-Feira, 07 de Fevereiro de 2014, 00h:08 | Atualizado: 14/02/2014, 01h:52
Pontes complicam a Transpantaneira
Patrícia Sanches
Enviada Especial a Poconé
Fotos: Rodinei Crescêncio

A estrada da Transpantaneira, com 147 km e média de uma ponte a cada km, é marcada pelo perigo e atoleiro nesta época, mas reserva cenas impressionantes
Here Begins the Pantanal, Welcome! Transpantaneira, aqui começa o Pantanal. Os dizeres inscritos num portal de madeira recebem os turistas que decidem se aventurar pelo Pantanal Mato-Grossense. Andar pela estrada parque (Rodovia Zelito Dorileo/MT-060) é apenas para os fortes, que estão dispostos não apenas a enfrentar os mosquitos, jacarés, onças e cobras, mas também uma estrada de chão – que se torna lamaçal quando chove – e as temidas pontes de madeira, desgastadas e quebradas. Assim, a sensação é de estar num rally.
O problema é que se o carro cair nos lagos, o transtorno não será apenas de tirar o veículo da água, mas também de fugir dos jacarés, afinal, são cerca de 10 milhões de répteis apenas no Pantanal Mato-Grossense. Percorremos 50 dos 147 km da Transpantaneira, que tem apenas 2,5 km pavimentados (antes da porteira que marca a entrada propriamente dita no Pantanal), e eles bastaram para que a região se apresentasse para a equipe de reportagem do RDNews.

Estrada da Transpantaneira, em Poconé, é um dos locais mais visitados por turistas de todo mundo
No céu avistamos um casal de araras azul, gaviões, patos, garças e o famoso tuiuiu , que desfilava como se não houvesse expectadores. No chão passeavam despreocupados pela estrada porcos do mato, emas e “famílias” de capivaras. Já um macaco atravessou tão rápido a Transpantaneira que praticamente passou despercebido. Enquanto isso, um veado e um tuiuiu andavam tranquilamente nas propriedades rurais. Logo após a porteira de entrada, a paisagem muda drasticamente. O cerrado dá entrada às lagoas pantaneiras, cheias de plantas aquáticas, jacarés e pássaros, que se refrescam nas fazendas que viraram rios nesta época do ano. Como estamos na época da cheia, os répteis praticamente não podiam ser vistos, mas, bastava um olhar mais demorado nas lagoas para encontrar olhos dos jacarés, submersos, mas atentos ao que acontece ao seu redor. As cercas ficam praticamente submersas.
No meio do caminho encontramos um grupo de turistas de Santa Catarina, que pararam para observar jacarés e uma garça real. Jussara Mattiollo Lemonie, que veio ao Pantanal a convite do amigo Marcos Albuquerque, conta que ela e a família fizeram um passeio de barco pelo rio Pixaim e que no trajeto pela estrada-parque encontraram jacarés, araras azul, porcos do mato, baguari e biguá. “Tão próximo, mas muita coisa a gente não conhece”, pondera.
Se, de um lado, a natureza dá um verdadeiro show, de outro, a infraestrutura ainda carece de investimentos e de um acompanhamento mais próximo da gestão pública. A estrada apresenta buracos e se transforma num lamaçal com a chuva. O principal entrave acaba sendo as 120 pontes de madeira, ao longo da transpantaneira.
Como são 147 km, há praticamente uma ponte por km. Durante a seca – julho a outubro -, a situação é contornada com mais facilidade porque existem desvios improvisados ao lado das pontes. Mas, na cheia, não é possível. Por isso, quando uma ponte quebra, turistas, empresários e fazendeiros ficam "ilhados". Conforme o diretor de Turismo Vanderlei Pimenta, existem pelo menos 5 pontes quebradas.

Caminhão moto-home, que tombou em janeiro, após um casal de franceses seguir por desvio porque uma das pontes da Transpantaneira estava quebrada
Em 26 de janeiro, por exemplo, um casal de franceses que viaja há dois anos pelo mundo tentou usar um dos desvios improvisados porque a ponte estava quebrada e tombou seu caminhão moto-home na MT-060. Eles foram encontrados pelo empresário Ailton Lara apenas dois dias depois. A secretaria estadual de Pavimentação Urbana, por sua vez, garante que há um acompanhamento das pontes e pondera que, está em fase de estudo a construção de pontes de concreto. A Prefeitura de Poconé revela que serão 32 pontes. Ainda não há previsão para o início das obras. Já o secretário estadual de Turismo Jairo Pradela garante que a estrada vai ser restaurada para a Copa e que as pontes receberão "ajustes". "Para os jogos mundiais serão medidas paliativas, depois, assim que a água começar a baixar, vamos fazer as pontes de concreto". Ainda conforme o secretário, haverá sinalização turística.
Enquanto empresários e fazendeiros defendem a pavimentação não apenas das pontes como da estrada-parque para melhorar a logística, a exemplo da estrada-parque Porto Cercado – pavimentada na gestão Blairo Maggi (PR) num parceria com Sesc Pantanal -, há quem discorde, como é o caso do turista Tibério Polcan, que veio de São Paulo. “Acho que não é o caso, quem vem para cá é para achar mato”, reforça.
Fiscalização
Logo na entrada da Transpantaneira há um posto de fiscalização da Sema . Conforme o sargento Vonei, ali ficam 4 agentes, sendo dois da Sema e dois do Batalhão Ambiental. Cabe a eles coibir, especialmente, a pesca irregular e tráfico de animais silvestres. Segundo Vonei, os turistas têm respeitado a legislação. Os agentes se preocupam mais com a pesca predatória.
Fotos: Rodinei Crescêncio

As lagoas pantaneiras na região de Poconé habitam plantas aquáticas, jacarés, pássaros e animais que encantam a todos visitantes, apesar da falta de estrutura
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