RAIO-X DA EDUCAÇÃO
Sexta-Feira, 14 de Março de 2014, 07h:05 | Atualizado: 14/03/2014, 08h:33
Os desafios de ser professor hoje
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Maria das Graças
Trabalho em escolas do campo há mais de 20 anos. Elas estão localizadas às margens da BR-163, em Itiquira. O grupo de discentes dessas unidades é formado, em sua maioria, por estudantes que residem no Distrito de Ouro Branco do Sul e por filhos de funcionários que trabalham nas fazendas da região, oriundos das diversas regiões do Brasil. A escolha por essa localidade, quase sempre é passageira e deve-se ao fato de aqui encontrar um local tranquilo para educar seus filhos e trabalho.
A importância das escolas aqui é significativa, pois contribui para o desenvolvimento de toda a sociedade, despertando, aos poucos, a consciência da cidadania.
A sociedade busca a escola como forma de crescimento educacional. Em sua maioria não possui consciência da responsabilidade de também educar seus filhos. Contudo, a maioria dos alunos que aqui se formam continuam seus estudos em escolas técnicas e universidades da região.
Na realidade, “ser professor” sempre foi e será um grande desafio. Porém, o que tenho a destacar são as diversas transformações pelas quais passa a educação hoje em relação à oferecida há alguns anos. Um dos aspectos que temos que enfrentar na atualidade é o modelo educacional que as crianças estão recebendo em seus lares. Ocorre que, embora não fosse tão valorizada, a presença diária da mãe na educação dos filhos propiciava-lhes uma estrutura educacional muito mais sólida do que a dos dias atuais. É lógico que não é justo imputar à mulher a culpa por todos os problemas advindos de sua saída dos lares em busca de novos horizontes (trabalho, estudo...), pois se trata de um direito legítimo, conseguido após muitos anos de luta. Aliás, a luta ainda continua e existe muito a conquistar. O que é necessário frisar é que, se antes a mãe acompanhava o dia-a-dia dos filhos, essa responsabilidade hoje passou a ser das creches, escolas, babás, irmãos e até vizinhos, contudo, nada comparado a segurança oferecida anteriormente pela figura materna. A família atual, em sua maioria, vê mais o aspecto social do que o educacional da escola.
Aqui, como ocorre na educação em geral, é necessário resgatar o valor que o ensino de qualidade tem na vida de todos nós e, principalmente, o direito que, como cidadãos, possuímos em usufruir de um ensino de qualidade, que realmente possa fazer a diferença para as conquistas de nossos sonhos. Se quisermos um país diferente, temos que lutar por essa transformação, pois a bem da verdade, todos somos responsáveis por ela. Chega a ser vergonhoso para nós observar a situação de diversas escolas em nosso país, como as exibidas pelo Fantástico, no último domingo (9) e pior, que somente após vexame em rede nacional, alguns prefeitos tomam providências para minimizar problemas que não existiriam se as verbas fossem aplicadas corretamente.
Citei a família, a estrutura física e não posso deixar de comentar sobre a formação de nossos professores. Acredito que a escola tem futuro, que realmente pode alcançar seus objetivos, porém é necessário que os educadores tenham amor pela profissão, que acreditem em seus ideais e busquem alcançá-los insistentemente. As universidades necessitam pesquisar mais e oferecer uma formação de qualidade coerente com a realidade. Em nosso dia-a-dia nos deparamos com realidades que, somente com uma formação continuada adequada, seria minimizada. É o caso da presença em sala de alunos portadores de necessidades especiais. Eles merecem uma atenção especial e, para que se sintam incluídos, professores e alunos devem receber formação específica para fazer frente aos novos desafios.
Resolveram que deveria haver a “enturmação” para resolver problemas dos alunos que estavam em distorção idade-série, mas sabemos que, na maioria dos casos, tal iniciativa esbarra na falta de conhecimento prévio desses educandos, pois, por motivos distintos, não possuem o mesmo conhecimento que os demais demonstram e ao serem efetivados em séries concomitantes às suas idades, não acompanham a sala e, ao contrário da inclusão, ocorre à exclusão. E não adianta dizer que professor tem hora atividade, afinal, e os outros alunos? O professor não precisa mais preparar suas aulas? A verdade é que, ao invés de darem condições para a melhoria da educação, com aumento da aplicação das verbas a ela destinada o que estão fazendo é cortar recursos.
A saída que temos para minimizar os problemas é dar o melhor que pudermos de nós mesmos nas atividades diárias, procurar executar cada vez mais um trabalho em equipe, jamais deixarmos de acreditar em nossos ideais e buscar a união para lutarmos por nossos objetivos. O professor e a educação, unidos, jamais serão vencidos!
Segundo Perrenoud, (2—1.p.260) “Ensinar é fazer aprender e, sem a sua finalidade de aprendizagem, o ensino não existe. Porém este fazer aprender, se dá pela comunicação e pela aplicação: o professor é o profissional da aprendizagem e da regulação interativa em sala de aula”.
Maria das Graças dos Santos Sanches é professora de História há 23 anos, especialista em psicopedagogia e ela leciona nas redes estadual e municipal de Ouro Branco do Sul, em Itiquira
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