LEGADO DE PEDRO
Sexta-Feira, 16 de Maio de 2014, 07h:15 | Atualizado: 16/05/2014, 10h:41
Casaldáliga vive em casa simples, cercado de "símbolos e de relíquias"
Patrícia Sanches
Enviada especial a São Félix do Araguaia

Pedro Casaldáliga mora numa casa simples, mas com símbolos de sua luta como uma canoa indígena que abriga um chapéu nordestino
Um dos percussores da teologia da libertação, voltada à causa dos pobres e índios, Dom Pedro Casaldáliga faz questão de levar uma vida simples em uma casa sem luxos, tanto que recebeu a equipe do Rdnews utilizando o conhecido chinelo havaianas, que se tornou um simbolo da simplicidade do líder religioso.
Todos os cômodos são repletos de simbologia com fotos de mártires da igreja Católica como a de Dom Oscar Romero, arcebispo da arquidiocese de San Salvador, Capital de El Salvador, que foi morto na década de 1980, com um tiro, enquanto celebrava a Eucaristia na capela do hospital Divina Providência, além de livros e de itens religiosos.
A varanda da casa é como um espécie de museu sobre a história da vida de Pedro Casaldáliga e das pessoas que ajudaram a construir a história de luta do bispo, como da Irmãnzinha de Jesus Genoveva (da fraternidade de Foucauld), que chegou ao local ainda na década de 50. Há ainda uma canoa com itens que simbolizam a luta dele pelos índios, retirantes nordestinos e peões (ver foto).
No fundo de sua casa, embaixo de uma mangueira, há uma capela em que o bispo emérito faz suas orações, a primeira do dia às 7h30, pouco antes de começar a atender as pessoas que o procuram, por volta das 8h. Ela foi construída com base no projeto de Cerezo Barredo, ao lado da primeira que era de pau a pique.
Dentro do santuário há algumas relíquias como o pedaço da túnica que Dom Oscar Romero usava quando foi assassinado. Assim como Casaldáliga, Romero se dedicou as causas dos pobres e, por isso, acabou assassinado. Há ainda um pedaço do crânio do padre jesuíta Ignacio Ellacuría, também morto na Capital salvadorenha, e o projétil que o matou. Tudo fica guardado dentro de uma caixa que fica no altar da Capela.
É possível observar ainda o mapa da África talhado em uma madeira. Acontece que Pedro é apaixonado por esse continente. Em princípio achou que iria ser missionário em alguma cidade africana, mas, depois, veio para a América Latina. Outra curiosidade acerca da capela é que seu formato arquitetônico nos dá a sensação de que duas mãos abraçam o local, a ideia é que provoquem a sensação de que seja as mãos de Deus, que acolhem e protegem.
Há ainda a imagem de Nossa Senhora do Araguaia para quem Casaldáliga fez um poema (ver foto).
Rotina
Apesar da saúde bastante debilitada por causa do Parkinson, Casáldáliga ainda é bastante ativo. Faz questão de ler e responder correspondências, com a ajuda do Padre Paulinho. Às 7h30 faz sua oração, entre 8h e 10h atende pessoas, descansa, almoça e volta a trabalhar das 14h às 16h. Depois é o momento de ler livros e jornais, para se manter atualizado. No cardápio estão literaturas de teologia, política, jornais e revistas.
Davi Valle

Padre Paulo explica ao Rdnews detalhes das relíquias e símbolos da capela de Dom Pedro Casaldáliga, como o pedaço da túnica do mártir Dom Oscar Romero
Galeria de Fotos




















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Comentários (4)
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Eliberto Cuiaba/MT | Sábado, 17 de Maio de 2014, 01h0010
Tive a oportunidade de visitar a casa do bispo em São Félix do Araguaia e pude constatar a simplicidade em que ele vive.
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Epaminondas Castro | Sexta-Feira, 16 de Maio de 2014, 18h3620
Enfim, uma boa matéria.... O Bispo Casaldáliga por si só é um excelente conteúdo......Grande defensor dos menos favorecidos...............Parabens RDNews!!!
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claudio scalon | Sexta-Feira, 16 de Maio de 2014, 15h5100
"Eis um homem que uniu coerentemente, sua formação teológica, seu discurso e sua pratica de vida. Pena em que ele não seja amplamente reconhecido. Não te trata de vaidade e, sim apenas destacar seu tributo à humanidade, onde não titubeou em tomar partido em favor dos explorados pelo rolo compressor do capitalismo. Casaldáliga, nos ensina com sua vida, que a contradição, mesmo numa secular e conservadora instituição como a Igreja, é possível. Parabéns pela matéria e pelo destaque...contemos pois nuances de sua luta! Assim penso, que haveremos de registrar a memoria de luta deste timoneiro do serão, recontando como em Mato Grosso, o latifundiário e o agronegócio insistem em exterminar a vida, em todos os sentidos, em nome do progresso e do (des) envolvimento.
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claudiomiro-Glória D'Oeste | Sexta-Feira, 16 de Maio de 2014, 13h5610
Parabéns pela reportagem rdnews, enfim algo que não seja política ou copa.
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