LEGADO DE PEDRO
Sexta-Feira, 16 de Maio de 2014, 07h:16 | Atualizado: 16/05/2014, 08h:06
Casaldáliga é ícone emblemático e ainda é alvo de ameaças de morte
Patrícia Sanches
Enviada especial a São Félix do Araguaia
Davi Valle

Casaldáliga caminha com a ajuda de uma bengala e do padre Paulo
Com mãos trêmulas, dificuldade para conversar e se locomover, mas com uma memória e uma lucidez invejável, Pedro Casaldáliga, 86 anos, ainda é alvo de ameaças de morte. Questionado sobre a questão, ele responde de imediato e com bom humor: “Mais ou menos”, revela o bispo emérito da prelazia São Félix do Araguaia, em entrevista ao Rdnews, em sua residência. O encontro demorou cerca de 1h. Acontece que o bispo tem uma saúde debilitada e, por isso, se cansa fácil. Embora o tom da voz seja baixo, as vezes quase um sussuro, Casaldáliga impressiona pela forma como expressa as suas ideias, sempre com firmeza e segurança.
Quem observa este homem de movimentos leves e cabelos brancos, num primeiro momento, acredita estar à frente de apenas um missionário com boas histórias, mas logo percebe-se que, apesar dele praticamente não sair de casa há 4 anos, Casaldáliga ainda acompanha de perto os conflitos da região e, por isso, é uma figura emblemática no país. Ele é apontado por produtores como um dos principais responsáveis, por exemplo, pela desintrusão na gleba Suiá Missu.
A expulsão dos não índios começou em dezembro de 2012, mas teve novo desdobramento neste ano, quando posseiros invadiram a área indígena, onde antes era o Posto da Mata, e foram expulsos pela Polícia Federal. Em 2012, inclusive, ele teve que deixar São Félix do Araguaia por 3 semanas, por orientação da PF. “Minha presença criava a sensação de mal estar”, conta.
Além disso, conforme ele, se avaliou que, naquele momento, era importante sua saída porque, assim, a PF não precisaria ter dois focos: fazer a segurança dele e a desintrusão. Hoje, produtores ainda tentam conquistar o direito de retornar para a área. Os indíos Xavantes, por sua vez, tomam posse da reserva indígena. Casaldáliga pondera que os Xavantes estão felizes, mas ainda precisam de estrutura e remédios.
Mas Casaldáliga não foi alvo de ameaças apenas por causa deste conflito. Em março de 2013 , o bispo voltou a denunciar, à Carta Maior, que sofria ameaças anônimas, que chegam à sua residência por todos os meios: telefonemas, internet e falsas mensagens. Acontece que na região há uma série de situações polêmicas.
Davi Valle/Rdnews

Pedro Casaldáliga se prepara para descansar em seu quarto. Bispo ainda tem forte influência na região, defendendo índios e retirantes. Ele é alvo de ameaças
Mas, o fato é que a “sombra” da morte acompanhou Casáldaliga durante esses 46 anos em que o líder religioso está no Brasil. Ele chegou no país durante a ditadura e, desde então, já relatou uma série de ameaças de morte e truculências. Talvez, por isso,o bispo trate o assunto com tanta naturalidade e a impressão que fica é de que a situação já se tornou rotina. Conforme o padre Paulo Santos, que acompanha e cuida de Pedro, as ameaças amenizaram, mas não cessaram porque o nome de Pedro Casaldáliga “vai e volta toda vez que há um tema sobre um conflito”.
Segundo padre Paulo, que cuida de Pedro desde 2010, fazendeiros entendem que o bispo conhece muita gente e que, por isso, ainda tem influência na região. Além da Suiá Missu, que ainda é alvo de polêmica entre o setor produtivo e a Funai, padre Paulo pondera que o nome de Casaldáliga também aparece quando se trata da criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em Luciara.
Lá o conflito ainda é intenso. No final de 2013, por exemplo, duas casas foram queimadas enquanto fazendeiros e grileiros bloquearam todas as estradas e o acesso pelo rio Araguaia, com objetivo de impedir a criação da reserva. Mas, apesar das ameaças, Casaldáliga mantém sua rotina e segue morando em São Félix do Araguaia, cidade que fica às margens do rio Araguaia.
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