LEGADO DE PEDRO
Sexta-Feira, 16 de Maio de 2014, 07h:14 | Atualizado: 16/05/2014, 07h:35
Casaldáliga é protegido e punido por Vaticano; João Paulo II convoca líder
Patrícia Sanches
Enviada especial a São Félix do Araguaia
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João Paulo II e Pedro Casaldáliga conversam sobre atuação do bispo em MT
O bispo emérito de São Félix do Araguaia, Pedro Casadáliga não se tornou um ícone emblemático apenas por sua luta pelos índios, pequenos produtores e contra o trabalho escravo, mas também ficou conhecido mundialmente e provocou debates por causa de sua relação com a própria igreja Católica, que ora o protegeu, especialmente durante a ditadura e, ora o convocou a prestar esclarecimentos por causa de sua atuação.
Na década de 80, o papa João Paulo II, inclusive, chegou a tentar lhe aplicar a penalidade do silêncio obsequioso, proibição de falar em público e de publicar suas ideias. A punição se devia a atuação de Casaldáliga e a sua polêmica viagem a Nicarágua, quando criticou bispos dizendo que “eles não contestavam os crimes”. O bispo, entretanto, se recusou a assinar o documento e, assim, as sanções não ocorreram.
Anos antes, entretanto, a igreja, por meio da CNBB e do então papa Paulo VI, impediu que Casaldáliga fosse expulso do Brasil pelos militares que comandavam o país. Por quatro vezes o Regime Militar tentou extraditar o bispo Pedro do Brasil. Numa das vezes, a resposta do Vaticano foi muito clara:
“O papa (Paulo VI) disse que tocar em Pedro, era tocar em Paulo”, lembra o bispo emérito, em entrevista ao Rdnews, concedida em sua residência. Em seguida, Casaldáliga reforça que a “posição de Paulo VI era uma e de João Paulo II era diferente”.
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Papa Paulo VI intercedeu em favor de Casaldáliga
O religioso lembra que João Paulo II se preocupava com a politização da pastoral, temendo que fosse mais política do que religiosa. Acontece que Casaldáliga é defensor da Teologia da Libertação, movimento que se espalhou pela América Latina e que foi condenada pelo Vaticano, por identificar em seus postulados “princípios marxistas”.
Mas não eram apenas as posturas ideológicas de Casáldáliga que provocaram embates com o Vaticano. João Paulo II convocou o bispo a ir a Roma devido ao fato dele desrespeitar a orientação de que os bispos deveriam ir a cada 5 anos visitar o papa. “Achava sem sentido. Você não tinha a chance de se explicar. Só formalidade”, reclama o líder religioso.
Ainda conforme Casaldáliga, à época, ele escreveu uma carta a João Paulo II dizendo que, "se o papa achasse que devia ir, iria, mas para uma conversa", recorda. Chegando lá, foi interrogado pelo então cardeal Joseph Ratzinger que, depois, se tornou o papa Bento XVI. Depois, teve diálogo com o papa João Paulo que pediu para que o então bispo do Araguaia mantivesse a unidade da Igreja.

Erwin Krautler, entrega relatório sobre conflitos agrários ao papa Francisco
Agora a igreja Católica vive novo momento de transformação e o papa Francisco defende algumas bandeiras relacionadas ao que Casáldáliga vem lutando, como o compromisso com os pobres.
O bispo do Araguaia lembra que, em abril, o presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Erwin Krautler, entregou ao papa Francisco um documento com as graves violações do direitos indígenas no Brasil. Conforme o relatório, 34 pessoas foram assassinadas em 2013 em conflitos agrários, 15 delas são indígenas.
O número é o maior já registrado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), que desde 1985 divulga esse tipo de estatística. Na oportunidade, Kräutler disse que o papa Francisco “demonstrou atenção, preocupação e sensibilidade para com as questões levadas até ele pelo Cimi”.
Além disso, no ano passado, o próprio Pedro Casaldáliga fez um pedido ao novo papa por intermédio do Prêmio Nobel da Paz argentino, Adolfo Pérez Esquivel: “Que a Igreja se reconcilie com a Teologia da Libertação”. “Apresentei-lhe uma mensagem de Pedro Casaldáliga, que me disse: Você verá Francisco, diga para ele que procure escutar, refletir e chegar a um acordo, uma reconciliação com os teólogos latino-americanos. Que se preocupe com toda a questão dos povos originários no continente. Para mim, isso foi um sinal positivo”, afirmou Adolfo ao Religión Digital.
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